Agro: eficiência produtiva apesar das dificuldades

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja

O Brasil figura no cenário mundial como o segundo maior exportador de produtos agrícolas e evolui para a liderança global num futuro não muito distante, visto que cresce aceleradamente desde a década de 1970. O potencial exportador de produtos agrícolas do Brasil tem tudo a ver com sua população relativamente pequena (210 milhões) face a outros grandes produtores agrícolas como China (1,4 bilhões) e Índia (1,2 bilhões) que produzem mais, mas consomem a maior parte do que produzem, dado o tamanho da sua população. Os Estados Unidos (EUA), com uma população de 350 milhões, ainda figuram como o maior exportador global de produtos agrícolas, mas vêm perdendo participação, principalmente por parte do Brasil.

RRRufino/ArquivoEmbrapa

O reconhecido avanço da produção agrícola brasileira ao longo da história se ressente de um apoio logístico e creditício oficial, comparável ao dos seus competidores estrangeiros. O avanço produtivo experimentado pelo País foi mais produto da garra e determinação de dinâmicos agricultores, que não pouparam esforço e sacrifícios para desbravar e transformar o Bioma Cerrado, território com baixa capacidade produtiva e de difícil acesso, num celeiro mundial. Além disso, apesar de ser alvo de acusações sobre o desmatamento, 68% do nosso território ainda está coberto por vegetação nativa, incluindo 18% em unidades de conservação permanente e 13% em terras indígenas.

Importante salientar que a pesquisa e, em alguns casos, a assistência técnica oficial tem sido preponderante na produção e popularização de tecnologias isentas de apelos comerciais, do tipo que prioriza os processos. O avanço na produtividade dos grãos brasileiros deu-se, principalmente, pela utilização de tecnologias nacionais: adaptação da soja às regiões tropicais de baixa latitude, desenvolvimento do sistema de plantio direto na palha, integração da lavoura com a pecuária, substituição do fertilizante nitrogenado mineral em leguminosas, pela fixação biológica do nitrogênio atmosférico, entre outras.

O Brasil tem vocação agrícola e deve explorar este potencial. E pode fazê-lo sem mais desmatamentos, incorporando-se as áreas aptas para grãos – que estão sob pastagens degradadas – à produção exclusiva de grãos, ou preferencialmente integrada à pecuária. A integração incrementaria a produção de grãos e carnes em períodos diferentes. De qualquer forma há que se aumentar a produtividade, como viemos praticando desde a década de 1970, mas com maior intensidade a partir dos anos 90. 

A produção brasileira de grãos em 1990 era de 58 milhões de toneladas (Mt), em uma área de 34 milhões de hectares (Mha): 1.706 kg/ha. Para a safra 2019/20, a Conab estima a produção brasileira em 252 Mt, produzidos numa área aproximada de 65 Mha: 3.877 kg/ha; aumento de 127% no período ou 4,23% ao ano, intuindo que cerca de 83 Mha foram salvos do desmatamento pelo incremento da produtividade. Mesmo assim, ainda acontecem desmatamentos na Amazônia, particularmente os relacionados à extração ilegal de madeira e à implantação de pastagens. Desmatar para realizar agricultura seria desastroso, porque ameaçaria seriamente a comercialização e a normalidade das precipitações pluviométricas no país.

Por outro lado, com cada vez mais estridência, os consumidores mais exigentes demandam e ampliam o conceito de qualidade. Eles se preocupam com a preservação do meio ambiente e com a justiça social praticada nos processos produtivos agrícolas. Estão questionando se os produtos disponibilizados pelo Brasil no mercado global merecem respeito ou foram produzidos infringindo as regras básicas recomendadas pelos organismos internacionais. Sem as credenciais de respeito ao trabalhador e ao ambiente, os produtos brasileiros poderão encalhar nas prateleiras dos supermercados do Primeiro Mundo ou nem chegar lá, rejeitados antes de atingir os centros de consumo. 

A pior reação a essa tendência é desqualificá-la e desprezá-la. Ela provém da popularização da informação e do compartilhamento de opiniões, através da tecnologia da informação (TI). Em breve, essa mesma TI permitirá o rastreamento de todas as informações dos produtos que se adquirem, a partir de endereços eletrônicos codificados nas embalagens. Quem levar o novo consumidor a sério vai descortinar novos mercados mais remunerativos. Quem não levar, vai continuar vendendo commodities, enquanto houver consumidor que delas dependa.

O Brasil poderá atender às novas exigências. O seu gargalo não é a produção, mas a armazenagem e o escoamento. Faz décadas que o meio oeste brasileiro promete se consolidar como principal fornecedor de grãos, fibras e carnes. Mas tem sido impedido por deficiências logísticas, que resultam em perda de competitividade do Brasil no mercado mundial.

Mesmo com dificuldades fora da porteira, o agronegócio vai bem, muito obrigado. E deverá continuar indo, com uma boa visão de futuro.

Fonte: Canal Rural

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