Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar acelerou suas perdas frente ao real para cerca de 1% nesta terça-feira, depois que dados de inflação dos Estados Unidos mais fracos do que o esperado reforçaram a percepção de que o Federal Reserve já terminou de subir os juros e pode começar a cortá-los no primeiro semestre do ano que vem.
Às 11:08 (horário de Brasília), o dólar à vista recuava 1,00%, a 4,8587 reais na venda. Na mínima do dia, a divisa norte-americana chegou a cair 1,21%, a 4,8487 reais, menor patamar intradiário desde 20 de setembro.
Na B3, às 11:08 (horário de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,01%, a 4,8665 reais.
O movimento estava em linha com a desvalorização de 0,75% do índice do dólar contra uma cesta de moedas fortes, que antes dos dados estava em baixa bem mais moderada. Já as principais divisas arriscadas pares do real, como dólar australiano, rand sul africano e peso mexicano, tinham todas ganhos superiores a 1% na esteira da leitura de inflação.
Os preços ao consumidor dos Estados Unidos ficaram inalterados em outubro e o núcleo da inflação mostrou sinais de desaceleração, informou o Escritório de Estatísticas do Trabalho do Departamento do Trabalho norte-americano nesta terça-feira.
O resultado veio abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,1% e representa arrefecimento ante o aumento de 0,4% visto em setembro.
Após os dados, “(os rendimentos dos) Treasuries aceleraram a queda, confirmando expectativa já no mercado de que haveria números abaixo do esperado”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, associando esse movimento ao tombo global do dólar.
“Lembrando que arrefecimento da inflação é igual a um Fed menos rígido”, completou ele.
Num geral, quanto mais altos os custos dos empréstimos nos EUA, mais o dólar tende a se beneficiar globalmente, uma vez que investidores passam a mostrar maior interesse pelo extremamente seguro mercado de renda fixa norte-americano. Por outro lado, juros mais baixos na maior economia do mundo favorecem divisas de países com retornos mais elevados, como o Brasil.
Após os dados de inflação desta terça, dispararam para 99% as chances de o Fed manter os juros no intervalo atual de 5,25% a 5,50% em sua última reunião de 2023, mostraram probabilidades implícitas em contratos futuros.
Ao mesmo tempo, cresceram ainda mais as apostas em cortes de taxa já no primeiro semestre do ano que vem, mesmo depois que várias autoridades do Fed disseram recentemente que ainda não têm certeza se a política monetária já está em patamar restritivo o suficiente para conter a inflação.
Por outro lado, limitando o espaço para ganhos do real daqui para frente, sinais de desaceleração da atividade econômica brasileira podem aumentar as chances de o Banco Central seguir com ou até acelerar o ritmo de cortes da Selic, disse Bergallo.
“Em tese isso seria ruim para nosso diferencial (de juros em relação aos EUA), mas ainda não impactou o mercado… Acho importante mencionar isso, porque o dólar começa a cair e o cliente já acha que vai ladeira abaixo… A despeito do cenário externo, teremos um limitador da queda do dólar por conta deste contexto local.”
O BC fez no início do mês um terceiro corte de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 12,25% ao ano, e afirmou que sua diretoria antevê reduções equivalentes nas próximas reuniões.
Dados de mais cedo publicados pelo IBGE mostraram que o Brasil registrou queda no volume de serviços em setembro.
(Edição de Camila Moreira e Isabel Versiani)